Enquanto não sai o Euromilhões... ;)

Enquanto não sai o Euromilhões...

O meu ultimo dia de trabalho é praticamente dedicado a elaborar um plano meticuloso, para que assim que o prémio me saia, eu fuja desta vidinha de caixinhas, de que todos tentamos escapar mas que inevitavelmente nos acorda todas as segundas e bem cedo.

Segunda, sete da muito cedo que ainda nem é manhã, sais da caixinha da cama (e que caixinha quentinha), passas p'ra caixinha do quarto de banho e és acordado à força como um torturado em Guantanamo, passas para a caixinha das escadas do prédio a tropeçar no cordão da sapatilha que ainda apertas enquanto, claro, vestes o casaco que, preso no puxador da porta da vizinha de baixo, te mostra no reflexo do vidro da porta da rua o quanto o teu cabelo não te obedece mesmo que te tenhas esquecido de o pentear.

Entras na caixinha do autocarro cheio que nem um ovo, com mais gente na paragem do que dentro do vaivém de transporte, que sem espaço e sem oxigénio, te obriga a entrar pela porta de trás e a calcar vinte pessoas até chegares, em modo quase que te sentas, aquele lugar que supreendentemente estava vazio e que (aquela hora da madrugada) parecia o sofá da sala onde descansas os ossos todos os dias. Mas claro a velha manca, doente, cheia de sacas de couves da feira da terriola lá do sítio que ninguem sabe o nome, e que o genro que anda na droga, deixou a filha grávida e o neto de dois meses sem pai, porque fugiu com a sobrinha da patroa dele que era feia que nem a penca mais carcomida que ela levava ali nas sacas... Ó minha senhora sente-se lá mas por favor feche essa matraca!!!

Chegas à caixinha do trabalho e pronto... A malta é jovem e tal e até tem um Blog, mas logo começa uma sinfonia imparável de toques de telefone e incoming messages, com mais dois faxes para fazer e ontem já era tarde e veja lá se isso fica pronto até à uma hora que eu vou p'ra Lisboa e preciso desses dados (o que tu queres sei eu - pensamos mas não dizemos), e pronto...

E pronto a hora de almoço já lá foi e por apenas sete euros na caixinha do Refeições Rápidas, comes a mais extraordinária refeição de arroz aquecido no micro-ondas e a mais vitaminada batata frita au plus oil com as almondegas estranhamente mais parecidas com a bolonhesa de ontem que tu já tinhas deixado a meio. Tudo isto degustado com tinto verde da casa que te disseram maduro mas também já não te importas só tens cinco minutos mais e a tua mãe já está a telefonar para te contar que o gato desapareceu e filha da vizinha namora com um cigano da feira e ò Mãe a bateria está a acabar logo falamos...

Falamos, mas depois de uma tarde ainda pior que a manhã e uma viagem de volta parecida com o comboio fantasma da feira popular, tu e mais dez crianças assustadas com o desfile de zombies e automatos em crise de meia idade a desejar que o trabalho não tivesse acabado porque agora vão para casa...

E em casa na caixa de correio encontram as contas para as quais não têm dinheiro e o caixinha conjuge com o qual não tinham casado se não tivessem fartos de viver com os pais e vêr as amigas(os) a fazer grande festarola com banda pimba e o camandro.

À mesa a comida sabe-te ainda pior que a do meio dia e a conversa cheira-te pior que a do teu patrão "Aqui mandas quando faltar a luz, porque enquanto houver corrente, manda a maquina de lavar e o ferro da caixinha da vê a novela na cozinha que está a dar o Barcelona na Sportv".

No fim do dia voltas p'ra caixinha da cama mas desta vez...

Mas desta vez não...
desta vez decidi que o Euromilhões vai ser meu, e por isso estão todos convidados...

Só ainda não sei para onde (o tal plano meticuloso, enfim...) mas para longe...