Ao primeiro sinal de perigo, páro.
Piso escorregadio, sinto.
Demasiado tarde. Não há volta.
Sigo. Percorro o caminho.
É muito sinuoso, no entanto, lindo.
As cores, os tons indefinidos.
As formas, as sombras.
Beleza extrema
em constante mutação, vai-se revelando à medida que passo.
Mais uma surpresa agradável.
O carro foge-me, ameaça fugir ao meu controlo.
Agarro-me ao volante, não vou voltar agora.
Talvez seja melhor percorrê-lo a pé.
Assim terei todo o tempo do mundo para o contemplar.
Não me canso apesar dos trilhos de difícil acesso,
das subidas íngremes.
Pelo menos não é chato.
Anoitece.
É com dificuldade que vejo.
Sigo a intuição.
Agarro-me aos cheiros,
leves aromes quentes. Sigo-os.
Sinto-me em casa.
Descalço-me para sentir tudo.
Não quero perder nada.
Assim iluminado, pela luz prata da lua, é ainda mais bonito.
Pequenos pormenores na sombra são revelados.
Páro. Sento-me numa pedra.
Estou cansada, desalentada, mas não vou desistir.
Porque vale a pena. Eu sei que vale.
Absorvo tudo.
Fecho os olhos para fotografar,
tudo o que vi, tudo o que vejo.
Preciso de tempo.
Não gosto de fotografias instantâneas.
Gosto de fotografias com grandes tempos de exposição,
para que tudo fique registado,
para que nada se perca.
Uma lágrima cai, lentamente.
Eu deixo cair. É comoção.
Demasiada beleza para ser verdade.
Será que ninguém repara?
Será que ninguém reparou?
Serei a única a ver?
Devo estar a dormir.
Só pode ser um sonho.
Se assim é, acordem-me devagar...