Monday, October 15, 2007

sem titulo

Talvez não seja, hoje por hoje, muito fácil encontrar alguém que esteja pior do que nós. Não que não existam, pois existem. Apenas sofremos nos nossos dias, de uma umbiguilite agudíssima, que nos turva a visão e nos provoca nesse nevoeiro narcisista, uma pena de nós, para nós e/mas pior do que tudo, por nós.
A minha geração, aquela que eu direi, a dos agora, faz muito pouco tempo que fiz trinta e ai que a vida me está toda a fugir, é a primeira geração nascida a seguir à revolução de Abril. É por isso mesmo a primeira geração verdadeiramente egoísta, na historia do século XX português. A geração do eu eu eu, agora agora agora, meu meu, já já. Há como é óbvio, milhares de outras definições possíveis e como qualquer outro post desta blogoesfera, perecível ao erro de julgamento do pseudo pensador e à sentença do leitor. Afinal a geração antes da minha foi a rasca e eles sem net, mail, sms ou blogs malharam na frase como se lhes tivessem passado um atestado vitalício de incompetência e impotência, sem nunca, também eles, terem reconhecido o mérito ao autor de os ter agitado o suficiente, para os fazer precisamente menos daquilo que os tinha anteriormente etiquetado.
Porém, é esta a minha geração e eu também sei que sou dela. Como, claro, gosto de partilhar as suas virtudes, vitórias e porque não sonhos - e não será o sonho de todas as novas gerações de jovens, fazer algo de extraordinário com as suas vidas – também divido com essa mesma colheita, naturalmente, os seus fracassos. Ou seja, as suas derrotas intelectuais, idealistas e filosóficas, mas também as suas falhas matemáticas, cientificas e em ultima analise de imposição da sua visão para um mundo diferente.
Mas nesta geração o que mais me dói partilhar são as suas falhas de carácter, um par de erros ao nível da construção intelectual e emocional, sendo essas mais difíceis de lidar do que as anteriores. Pois se o sistema politico, económico e social se encontra falido (na minha visão claro), podemos com sustentação ao nível dos argumentos históricos, distribuir as culpas, pelas várias décadas do nosso ultimo século e até apontar o dedo, desde já, às levadas de juventude que nos seguiram, por mais uns tiros no pé e umas demandas por maquinas de transformar chumbo em ouro e soluções utópicas ou desvairadamente radicais. Assim podemos com segurança afirmar que não mudamos o mundo, mas não fomos os únicos.
Agora não termos nós mudado, a nossa tacanhez intelectual, a pobreza de espírito e principalmente a negligencia emocional com que todos os dias criamos à nossa volta um labirinto de falsas emoções, sensações e experiências de vida, com que inventamos uma vida melhor do que a que temos e naturalmente mentirosa para com quem nos é mais próximo, é imperdoável. Não posso pensar mais nisto sem me sentir enjoado por esta forma de ser. Somos, ainda hoje, também nós, invejosos, falsos, conspiradores e terrivelmente cáusticos para com todos, e esquecemo-nos com frequência inusitada que todos é um sujeito que nos inclui, pois todos somos também nós. Sabemos bem como poderíamos estender a mão. Não, não digo estender a mão mais vezes, digo sempre.
Vivemos numa constante contabilidade, de quem já fez mais por nós, quem nos expiou mais vezes os nossos pecados ou quem conhece os nossos segredos mais tenebrosos e o que de mal com essa informação nos podem fazer. Ao invés, analisamos friamente as atitudes dos outros, criamos gráficos em tarte, nos quais estatisticamente vamos economizando palavras, abraços, beijos e depois vamos cortando fatia a fatia e desconstruimos emoção a emoção um ser humano.
Somos, sempre e sem remissão a definição de egoísmo. Ou seja, captamos na essência aquilo, que de mais sombrio há na existência humana, perfuramos, lapidamos e polimos, compramos, desconcertamos e arranjamos e no final do dia, no único sitio onde somos sempre, em qualquer situação, independentemente da nossa estatura moral, autorizados a sermos egoístas, não o somos. Pelo contrário, aí, sozinhos, pedimos desculpa a todos, desejamos ser mais fortes e sempre, invariavelmente, sem lógica mas também sem necessidade dela mais humanos.

Nasce isto de um conjunto de situações ocasionais, encontros fortuitos e conversas de ocasião. Foram-me apresentadas uma série de pessoas, daquelas que gostamos de conhecer, pois são providas de intelecto, espírito, humor e presença. Com elas, ao longo dos últimos dez dias fui tendo um determinado numero de pensamentos, típicos das ocasiões em que conhecemos gente nova. Afinal não éramos os únicos com sentido de humor, com inteligência, cultura, traços de humanidade e até de vez em quando com, como ouvi há pouco tempo, Sal.
E foi à conta dessas três/quatro conversas, que me decidi neste domingo de madrugada, na cama, no tal lugar, onde na maior parte das vezes quero adormecer o mais rapidamente possível, apenas para não me enfrentar, a por de novo o dedo na ferida. Tal como previa, doeu como o caralho! Assim mesmo não há outra forma de o dizer. Meter o dedo por uma ferida aberta adentro e escarafunchar dói como o caralho. Especialmente porque o “Como tens andado? Bem e tu?”, é agora cristalinamente falacioso. É mau, descobrirmos, ou antes, redescobrirmos que laboramos em erro, na assumpção de que há uma emocionalmente descuidada forma de ir vivendo, que no ultimo ano me fez perder o essencial. Os outros. Pois à parte de umas quantas alegrias circunstanciais, uns apertos de mão sentidos e uns abraços de (con)sentida amizade, sinto-me por hoje distante. Negligenciei e negligenciei-me. Não percebi porquê, mas entendi como. Por omissão.
Preciso de mais do que aquilo com que me fui habituando a viver, neste ultimo ano. Conclui, erradamente, há pouco tempo atrás, que este ano tinha sido cheio e por isso mesmo bom, mas não. Este ano foi activo, mas não cheio. Foi como comer um puré delicioso mas sem aquilo com que o nome do prato fica completo. Ou seja sem a pequena parte, mas a importante. O que completa.
E isto não é uma derivação de umas quantas centenas de caracteres para ir dar ao preciso de alguém. Não, é diferente. É um preciso de quem me sabe. Neste caso de alguns que este ano perdi. Por simples omissão, negligencia e por ultimo e no mais grave dos graus por egoísmo. Porque depreendi que seguiria.
Para aprender, ou muito melhor reaprender isto, bastou bater no chão. Na dura, fria e concreta realidade de cimento. Ando por aí perdido na minha umbiguilite, a projectar o sou melhor que tudo e ao mesmo tempo, o sou o mais desgraçado de todos, num filme que tanto critiquei e vi repetido por essas salas de cinema humanas… vocês. Afinal sou bem menos que alguns. Afinal há quem esteja pior do que eu.
Existe gente simplesmente cansada, a lutar todos os dias pela sua sanidade, agarradas a um passado difícil, a carregar um presente em que estão estoicamente e principalmente altruisticamente a dividir o peso com alguém que amam e que ainda no fim, apesar das quedas, tropeções e rasteiras, dizem ainda estou de pé! Enquanto eu na minha pena de mim e negativamente por mim, sigo em frente sem perceber que de facto… egoisticamente não quero compreender que vocês estão aí e que vos devo participar na mudança, estender a mão e sei lá... mas quem são vocês?

6 comments:

Gabi said...

:) Sabia que era capaz. ;)

Agora não tenho tempo para comentar devidamente. Mas prometo reler com (ainda) mais atenção e opinar... bjk

Gabi said...

Em primeiro lugar, permite-me o desabafo: SOCOOOOORRO! Não sei o que se passa com este Outono mas anda tudo deprimido. Finalmente alguém com garra e vontade de dar a volta por cima! O papel de coitadinho não fica bem a ninguém. Somos mesmo um povo de fado.

O texto
Confesso que não esperava que tivesses a coragem de te expôr assim. Custa mas sabem bem, não sabe?
Muito oportuno!
Eu gostei! ;)))))

Gabi said...

E aqui vão 3...

Qd perguntas "mas quem são vocês?", questionas quem somos em relação a ti ou questionas se sabemos quem somos, se nos conhecemos.
Quem sou... é difícil de responder. Mas, em relação a ti, sabes que és meu mano e que gosto mto de ti. E que gosto de andar de braço dado ctgo qd estou com os copos (qd n estou tb). E que gosto de me perder na conversa ctgo mm q esteja quase congelada de frio. E q gosto de ti mm qd és mau ou me dás respostas tortas.
E sabes quem tu és? És isso!... eh! ;)
Oh! Jantarada no prox sabado... Vê lá!!!

Anonymous said...

"Aqui estamos mais uma vez sozinhos. Tudo isto é tão lento, tão pesado,tão triste...dentro de pouco tempo estarei velho.Tudo então se acabará. Tanta gente que passou por este quarto. Disseram coisas.Não me disseram grande coisa. Foram-se embora. Envelheceram, tornaram-se lento e miseráveis, cada qual no seu recanto da terra" (Céline)
Pior é trazer sempre presente o peso da omissão, nunca descansar na quietude da certeza de quão vulgar é ser humano, pensar sempre que nos movem causas e sentires diferentes ou que nos imobilizam tristezas e labirintos distintos. Estar certo da existência do umbigo - e porque não?

naine said...

embora, também(?), eu um pessimista e substalcialmente um nihilista, acho que já me chega de umbigo. mas não me perguntem o que é que eu quero... nestes tempos acho que só estou consciente do que não...

naine said...

joão de deus nas recordações da casa amarela começa assim...